digitization of society

Welcome to the blog of darwin ecosystem (www.darwin-ecosystem.com). Here we are «darwing», we mean, helping organizations to find the best ways to evolve their digital business foundations. To find their criativity, their potencial. To follow their organizational natural drift. We believe that societies are evolving to operate in a more digital way. We call this process the «digitization of society process». This blog is about this process. Is a bilingual blog: PT and UK.

Saturday, February 26, 2011

Metáfora da Electricidade

O déja vu do impacto das TI ou a metáfora da electricidade
Marco de Abreu (darwin), Rodrigo Magalhães (IST)

Introdução

As tecnologias da informação (TI) são o tema do momento. São omnipresentes nas nossas vidas a todos os níveis – individual, familiar, social e profissional. Pensamos nas TI como uma onda de inovação nunca dantes vista, que varre tudo e todos. Contudo, esquecemos facilmente que uma onda com impacto igual ou superior abalou os fundamentos da nossa civilização tal como nós a conhecemos. Estamos a referir-nos à electricidade.

Neste post analisamos algumas das dimensões da mudança que a electricidade imprimiu, sobre o indivíduo, sobre as sociedades e sobre as organizações. Observaremos os surpreendentes paralelos entre a evolução da electricidade e das TI e veremos também como pode a história da electricidade contribuir para se entender o processo, em curso, de digitalização da Humanidade.

A evolução da electricidade

Houve um tempo em que não havia electricidade (a gerada pelo homem). Não precisamos ir mais longe do que 100 anos atrás. Neste mesmo lugar onde escrevemos - Portugal, Sintra, Belas – não existia energia eléctrica. Hoje, a electricidade está em todo o lado. Está embebida em nós. Nas nossas casas e no nosso local de trabalho, para iluminar, aquecer, arrefecer, transformar, produzir. A electricidade serve inclusivé para se gerar a ela própria...

A pilha de Alessandro Volta (1800) abre um século muito ‘eléctrico’: em 1821 aparece o motor eléctrico de Michael Faraday e em 1832 é concebido o dínamo; em 1873 James Maxwell publica a teoria unificada da electricidade e do magnetismo; em 1888 Nikola Tesla inventa o primeiro motor viável em corrente alternada. Seguem-se uma enorme quantidade de inovações até que, em 1947, William B. Shockley, John Bardeen e Walter Brattain inventam o transístor que abre as portas aos dispositivos electrónicos que populam os nossos dias.

Foram anos de profunda transformação dos Homens e das respectivas sociedades: mais de 100 anos de inovações tecnológicas e outros 100 anos para o verdadeiro impacto da electricidade ser sentido nas nossas vidas. A mudança da uma vida sem electricidade para a situação em que a mesma está completamente embebida em toda a nossa actividade fez-se em quase dois séculos – o processo de electrificação da Humanidade. A sua rica história, de sucessos e insucessos, é uma grande metáfora do tempo presente.

A electricidade e o indivíduo

Nos finais do século XIX, quando a electricidade começou a chegar aos indivíduos, a mesma era uma ‘coisa’ abstracta, sem existência física. As pessoas não a compreendiam, não a sentiam. O electrão (1894) era visto como uma abstracção, uma ‘coisa’ não real. O Homem estava a manipular as coisas de Deus. Há mesmo relatos a vaticinar o fim da electricidade dentro de poucos anos, aquando da Exposição da Electricidade de Paris em 1881...

A interiorização da electricidade foi acontecendo à medida que a electricidade entrava no dia-a-dia das pessoas e as gerações se renovavam, como especial ênfase no pós-segunda-guerra-mundial. Em Portugal2, a primeira geração que nasce com electricidade no seu dia-a-dia é a geração de 60, hoje na casa dos 50 anos.

A electricidade e a sociedade

A electricidade entrou nos sistemas públicos, sendo hoje uma das infra-estruturas base de qualquer país desenvolvido. O processo foi lento e muito caro, dado que envolvia novas disciplinas e saberes até então desconhecidos. Saberes que se prendem com a geração, o transporte de alta tensão, o de baixa, as transformações, a ligação às nossas casas. Em 1882 Thomas Edison liga a primeira rede eléctrica de larga escala na baixa de Manhattan e em Portugal o Chiado é iluminado, pela primeira vez, em 1876. Em 1878 e por ocasião do aniversário do princípe D. Carlos, é inaugurada em Cascais, a iluminação eléctrica utilizando-se seis candeeiros “Jablochkoff”, de arco voltaico.

Todos os grandes processos de ‘construção’ de bens sociais são grandemente transformados. Só para citar alguns: a construção de edifícios passou a ter projecto de electricidade, as industrias tiveram de considerar os projectos trifásicos de electricidade e os veículos (de todos os tipos) passaram a ter na electricidade e na electrónica uma forte componente dos seus projectos. As sociedades tiveram que desenvolver novos processos, como o urbanizar, onde ao projecto de esgotos, vias, gás e águas, se juntou o da electricidade e o das comunicações. As paisagens alteraram-se com as torres e as linhas de alta tensão, as barragens, as centrais e os geradores eólicos.

A electricidade e a organização

A entrada da electricidade nas organizações começou pelas organizações industriais. As primeiras tentativas foram a de substituir o antigo motor a vapor por um motor eléctrico, mantendo o processo de produção – ‘apenas mudava’ a energia que alimentava o motor. Os resultados não foram brilhantes, a simples mudança de tecnologia não justificava o investimento.

A mudança iniciou-se com Henry Ford, quando casa a inovação tecnológica do motor eléctrico com os processos de Frederick Taylor, criando uma revolução na gestão: as linhas de montagem e a produção em série. Ford foi dos primeiros a perceber que a simples mudança de energia não trazia valor, mas utilizar esta inovação tecnológica para transformar o processo de produção tirando partido da tecnologia não só criava valor, como gerava novos conceitos e negócio. Nada ficou igual. Em Micklethwait e Wooldridge (2003), pode ler-se:

"A guerra civil deu o primeiro impulso às fábricas americanas: o número de empresas produtoras aumentou para 80% na década de 1860. Mas o principal impulso para a mudança foi a nova tecnologia – particularmente a electricidade e, mais tarde, o motor de combustão interna. Porém, a nova tecnologia não valia de muito sem uma mudança organizacional. Por exemplo, os pioneiros da utilização da electricidade nas fábricas limitaram-se a substituir o vapor pela electricidade sem reorganizar o processo produtivo; foi só quando as fábricas começaram a utilizar a electricidade como energia para as máquinas individuais que a produtividade aumentou – algo que, em muitos casos, não aconteceu até meados da década de 1920."

As transformações foram sucessivas até aos nossos dias. E intensificavam-se à medida que as sociedades eram electrificadas.

A electricidade e a inovação

A electricidade, enquanto factor de inovação, teve o seu início do século XX. Mas a electricidade enquanto recurso para as inovações dos nossos dias foi mais forte no período após a segunda-guerra-mundial.

Começando com as comunicações, a inovação foi do telégrafo até a fibras ópticas dos dias de hoje e aos satélites. Passando para a informática, migrou-se dos computadores a válvulas até ao Apple iPOD, ao iPhone ou ao MacBook. Na medicina evolui-se do Raio X para o PET. E assim sucessivamente, para quase todas as ciências e, como coisas simples geram outras mais complexas, a combinação de todas as mudanças iniciadas com o advento da electricidade só agora está a começar.

A electricidade, fez o ciclo da inovação, passando de experiência de laboratório a tecnologia com impacto holístico. Esta mudança transversal a toda a sociedade fez emergir novas profissões, como sejam os electricistas e engenheiros electrotécnicos, e novas organizações para gerir este saber (e.g. IEEE, escolas) e provocou uma onda de inovações em todas as áreas de saber humano. Das inovações resultaram novas profissões, quer as que seguiam no fludo da desmaterealização como sejam as comunicações e informática, quer nas disciplinas tradicionais como exemplificam a engenharia civil e a engenharia mecânica.

Conclusão

Se na história da electricidade substituirmos a palavra ‘electricidade’ pela expressão ‘tecnologias de informação’ o que muda ?

Agora, como então, as tecnologias de informação têm sido entendidas como algo de abstracto, algo que as pessoas não entendem. Após os primeiros grandes falhanços, começamos agora a compreender o que Ford compreendeu há um século atrás, isto é, que as tecnologias (e as tecnologias de informação não são diferentes) não são a mudança mas sim um factor de mudança.

As ‘dores’ do processo de digitalização da Humanidade são muito semelhantes às ‘dores’ do processo de electrificação da Humanidade, com uma particulariedade: a aceleração do tempo é, pelo menos, dez vezes maior!

A electricidade, tal como acontece com as TI, fecha o ciclo e é hoje metáfora para a inovação que se constroi sobre si mesma e sobre a sua história. A mudança já se iniciou há pelo menos cinquenta anos, contudo a primeira geração que nasceu com as tecnologias de informação omnipresentes ainda vai a caminho dos vinte. Há, portanto, tempo para se aprender com a história e reflectir sobre os seus ensinamentos no tempo presente e futuro.

Notas:
(1) Todas as referências a pessoas, factos e datas da História da electricidade foram retiradas da enciclopédia on-line www.wikipedia.org, com excepção do caso de Portugal.
(2) Todas as referências à História da electricidade em Portugal foram retiradas do site www.engenhoeobra.com.pt.

Referências:
Micklethwait, J. e A. Wooldridge, A. (2003). A Empresa. Biblioteca Exame, Lisboa